Matéria publicada no Jornal do Sudoeste em 17 de agosto sobre o aumento da criminalidade em São Sebastião do Paraíso. Furtos a residências, praticados, na maioria das vezes, por menores de idade, têm assustado a população.
A sensação de segurança do cidadão paraisense já não é a mesma de
outros tempos “graças” à criminalidade que ronda o município. Como em
progressão geométrica, o número de furtos a residências e de veículos
tem crescido de forma preocupante no município. A situação é tão grave
que, em alguns pontos da cidade, acontecem em plena luz do dia.
Exemplos podem ser vistos nos bairros Bela Vista e Jardim Europa,
onde, nas últimas semanas, casas foram invadidas e veículos foram
levados por bandidos em horários pouco prováveis: durante a manhã e a
tarde. Um leitor conta que ladrões entraram em sua residência na
sexta-feira, 09, entre as 9h30 e 13h, enquanto ele e a esposa
trabalhavam. Eletroeletrônicos e outros objetos foram furtados.
Com medo, um morador do Bela Vista entrou em contato com o Jornal do Sudoeste
para relatar o que ele e seus vizinhos tem passado. “Nós não aguentamos
mais tanta insegurança. São várias casas e carros que foram furtados,
inclusive durante o dia. Fora o tráfico e o uso de drogas, que corre à
solta todos os dias. Ao escurecer,os moradores têm medo de sair de casa e
ir até a padaria”, conta.
Ainda segundo a fonte, os ladrões são menores residentes no bairro. “A
polícia sabe disso, mas não obtemos nenhuma resposta. Enquanto isso,
eles continuam nas ruas amedrontando pessoas de bem, que pagam seus
impostos e esperam do estado proteção. (...) Será que a polícia só vai
dar bola quando algum morador, cansado da criminalidade no bairro,
resolver fazer justiça com as próprias mãos”, desabafa.
Diante dos fatos, a reportagem do “JS” entrou em
contato com as polícias Civil e Militar em Paraíso. As instituições
afirmam que estão trabalhando para reverter a situação e dão suas
explicações.
Polícia Civil
Um dos responsáveis pela Delegacia de Furtos e Roubos em Paraíso, o
delegado Marcos Fernando Moreno afirma que a Polícia Civil percebeu o
aumentos de furtos na cidade, principalmente a residências. Conforme
explica, a maioria desses são efetuados por menores de idade.
O problema, segundo Moreno, são leis que protegem os criminosos que
ainda não completaram 18 anos de idade. “O menor não vai preso, e sim
apreendido e a última medida é a internação, que geralmente é feita
pelo juiz quando há violência e grave ameaça à pessoa. Então, atos
infracionais análogos aos crimes de furto geralmente não levam o menor à
internação. A dificuldade que nós temos é a própria lei brasileira”,
explica.
O delegado também critica a funcionalidade do ECA (Estatuto da
Criança e do Adolescente) e a falta de instituições apropriadas para a
internação dos infratores. “A polícia vai e apreende. A justiça vai e
solta. É como enxugar gelo. O Estatudo da Criança e do Adolescente é
muito bonito, mas a dificuldade é colocá-lo em prática na parte
estrutural. Não existem locais adequados para recolher esses infratores.
Menores são internados basicamente em cadeias. Não existe um centro
apropriado como a lei determina”, ressalta.
Conforme explica Moreno, não existe crime organizado em Paraíso,
apenas “pontuais”, movidos, principalmente pelo uso de drogas e dívidas
com o tráfico. Ele ainda acusa aqueles que compram objetos furtados como
um dos responsáveis pelo aumento da crimin-alidade. “A nossa
dificuldade também é quanto ao receptador, porque o furto vive paralelo à
receptação. Tem muitos cidadãos que ficam indignados com a
criminalidade, mas eles mesmos vão e compram um relógio, um óculos
importado ou uma tevê furtada. É aí que a máquina gira. Com esse
dinheiro que o menor recebeu, ele vai comprar droga. Acabou a droga, ele
vai e furta de novo. É um círculo”, aponta.
“Fenômenos”
Por fim, o delegado Marcos Moreno explica que existem determinados
“fenômenos” que contribuíram para que esses números negativos saltassem
na cidade. Os principais seriam problemas econômicos, a saída de
presidiários para a celebração do Dia dos Pais e, principalmente, pelo
desmantela-mentos de quadrilhas envolvidas com o tráfico. “Entendemos as
reclamações e sabemos do aumento. Quando há operações contra o tráfico,
aumentam o número de roubos. Quando você quebra a boca de fumo, o
traficante tem prejuízo. Ele precisa pagar os fornecedores, então passa a
roubar para pagar a conta”, conclui.
PM apresenta estatístisca
A pedido do “JS”, a Polícia Militar realizou análise
de dados estatísticos referentes ao mês de julho deste ano em
comparação com o mesmo período de 2012. De acordo com a instituição,
houve um decréscimo de furtos de veículos registrados. No ano pasado,
foram registrado cinco, contra três em 2013. Conforme a PM, o número de
invasões às residências também apresentou queda no índice, contudo, não
foram apresentados números comprobatórios.
Em nota, o comandante do policiamento em Paraíso, 2º tenente Rogério
Alves da Nóbrega, afirma que “tal redução foi conseguida graças ao
envolvimento dos órgãos de Segurança Pública e Justiça Criminal (Polícia
Militar, Polícia Civil, Ministério Público e Poder Judiciário), através
da adoção de ações e operações no sentido de conter os crimes contra o
patrimônio no município”. A ação, de acordo com a polícia, trouxe
reflexos positivos no mês de agosto, quando foi percebida a diminuição
dos delitos já na primeira quinzena, com tendência decrescente.
O tenente afirma, contudo, que há “um ligeiro aumento nos furtos
diversos, nestes incluídos celulares, bolsas e carteiras”. A maioria
desses objetos são subtraídos no interior de automóveis estacionados em
vias públicas. A polícia ressalta que ainda há crescimento nos furtos de
hidrômetros em construções e terrenos, contudo, os atos “são combatidos
através de lançamento de viaturas no patrulhamento em loteamentos e
locais mais afastados, diuturnamente”.
Na maioria dos casos, a PM verifica certa “distração” por parte dos
proprietários na guarda dos veículos e objetos. “Por exemplo,
constata-se, através da análise dos boletins de ocorrência que os
veículos furtados estão, na maioria das vezes, estacionados na rua, em
locais com pouca movimentação de pessoas. Tais veículos não possuem
alarme, principalmente motocicletas ou, quando possuem, o sistema está
inoperante ou deficiente”.
Na tentativa de coibir a ação dos jovens infratores, a Polícia
Militar afirma está prestes a divulgar uma campanha junto à comunidade
paraisense a respeito de medidas simples, porém eficientes de
autoproteção, a fim de evitar os crimes contra o patrimônio e auxiliar
no trabalho preventivo do policiamento.
O 2º tenente Nóbrega ainda comunica que tem realizado monitoramento,
acompanhamento e controle científico do fenômeno da criminalidade em
Paraíso, através da análise de dados atualizados diariamente e adoção de
medidas preventivas e repressivas, que visam atingir o estágio de paz
social e clima de tranquilidade pública.
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Tranquilidade típica das cidades interioranas é ameaçada por bandidos - Foto: Reprodução |