Antes desanimados, pequenos produtores celebram nova fase: “Não pretendo mais trocar essa vida pela vida na cidade”
A Lei Federal N°11.947, que trata da aquisição de produtos para a
alimentação escolar está mudando a vida de muitos daqueles que tiram da
terra o seu sustento. Isso porque, desde 2010, o Pronaf (Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) exige que as escolas
públicas estaduais e municipais adquiram, no mínimo, 30% dos alimentos
da merenda escolar de pequenos produtores rurais.
Em São Sebastião do Paraíso, onde a lavoura sempre foi protagonista
na geração de emprego e renda, a história não foi diferente. E o casal
de produtores Vanderlei Martins Sá e Aparecida Reis são testemunhas de
que o programa do Governo Federal trouxe novos rumos para a agricultura
familiar.
Antes, desmotivados com o cultivo da banana, Vanderlei e Aparecida
cogitaram a possibilidade de vender a propriedade na região da Queimada
Velha e se mudarem para a cidade com suas duas filhas. A ideia só não
foi colocada em prática graças à Emater (Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Estado de Minas Gerais), que apresentou o programa
aos produtores. “Não pretendo mais trocar essa vida pela vida na cidade.
O programa é um incentivo para o produtor não sair da roça. Depois que
começamos a vender as frutas para a merenda escolar, nós ficamos
animados a continuar aqui”, conta Vanderlei.
Na propriedade de pouco mais de cinco hectares, dos quais quatro são
destinados à agricultura, o casal possui algo em torno de quatro mil
bananeiras, que lhes rendem cerca de 1.300 caixas da fruta por ano.
Todas devidamente entregues às instituições de ensino às
segundas-feiras. O produto que hoje alimenta milhares de crianças e
adolescentes paraisenses, por muitas vezes, chegou a estragar pela falta
de compradores. “As coisas melhoraram muito. Antes, perdíamos até
metade da safra. Hoje não se perde nada”, afirma Aparecida.
Os agricultores também cuidam de uma plantação de duas mil figueiras.
No entanto, planejam substituir parte dessa cultura por mais
bananeiras. Mesmo colhendo 15 toneladas de figo por safra, o casal
afirma que o produto exige mais cuidados e maiores investimentos e
gastos. Na época da colheita, Vanderlei e Aparecida precisam contratar
uma terceira pessoa para ajudá-los.
O valor de comercialização das bananas fornecidas às escolas e os
programas de crédito oferecidos por instituições financeiras também são
celebrados por Vanderlei e sua esposa. Com as garantias, os produtores
investiram cerca de R$ 60 mil em uma câmara fria com capacidade de
armazenar até 250 caixas de banana e uma caminhonete para transportar as
frutas. “Já sofremos muito, mas hoje conseguimos manter e investir em
nossa propriedade. Hoje está mais fácil conseguir créditos. Se a pessoa
quiser trabalhar, tem recurso para fazer tudo”, completa Vanderlei.
A fartura na produção é tão grande que os dois afirmam ter plenas
condições de vender mais do que o valor máximo permitido pelo Governo
Federal, que hoje é de R$ 9 mil/ano por Declaração de Aptidão do Pronaf
(DAP), concedida para as propriedades que se dedicam à agricultura
familiar. Para que isso possa acontecer, é necessário que o órgão aprove
um projeto que eleva o teto de vendas para R$ 20 mil anuais por
produtor.
Além da alteração, que deve ser sancionada em julho, os agricultores
de São Sebastião do Paraíso já podem vender mais do que o limite de R$ 9
mil por DAP graças à união da classe. “Isso foi possível porque o
grupo, com o apoio da Emater e do Departamento Municipal de Agricultura,
conseguiu a DAP Jurídica para a associação dos produtores. Dessa forma,
eles poderão vender tudo o que as escolas necessitarem em nome da
associação”, esclarece Marco Aurélio Alves de Paula, presidente do
Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (Cmdrs).
Sobre o sentimento de ver seu negócio prosperar, Vanderlei se
emociona: “Trabalhávamos de empregados, não tínhamos nada e hoje estamos
prosperando, graças a Deus. Me sinto um rei. Se a pessoa tem vontade de
trabalhar e de crescer, pode ter certeza que chega lá”.
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